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“Valentina” ganha prêmio e menções honrosas em SP

Atualizado: 7 de dez. de 2020

| Opinião ★★★★

Longa foi exibido na 44º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

 

Muitos são os motivos da evasão escolar, mas você sabia que entre as principais causas está o bullying? De acordo com um artigo publicado pela Toda Matéria, o ensino médio é o período em que mais se alastra o abandono das aulas. E com Valentina, nome da personagem principal do longa de mesmo título, não foi diferente. Mas o motivo dela nos faz refletir sobre uma realidade que está do nosso lado e as vezes não percebemos.

Nascer mulher num corpo masculino. No filme de Cássio Pereira dos Santos somos arrebatados com a protagonista se revelando transexual logo em suas primeiras cenas. Valentina, interpretada pela atriz Thiessa Wionbackk, aparenta ter falsificado seu RG para poder entrar numa festa proibida para menores de dezoito anos, mas logo depois descobrimos que há uma complexidade naquele ato. A festa é matinê, ela só não quer correr o risco de sofrer bullying por conta de seu nome. Seu registro ainda consta o de batismo, do qual não faz mais nenhum sentido à sua atual imagem. Por dentro e por fora ela é Valentina, mas perante a burocracia social ela ainda é Raul.

O filme é extremamente tocante e lúcido na temática. Apesar de haver lei que dá direito ao uso do nome social, na prática não é bem assim que acontece. Há uma série de processos institucionais dos quais são preciso passar até que a lei se faça real. Valentina nos apresenta essa questão que nos dá angústia, mas ficamos o tempo todo torcendo para ela ficar livre dos rótulos.

Ambientado numa cidadezinha do interior de Minas, o filme chama atenção por nos apresentar uma mãe (Guta Stresser) que está ao lado de sua filha trans, lidando com todos os problemas, inclusive o de abandonar a escola por sofrer bullying. A história se desenrola com leveza e sem ser superficial.

Recém-chegadas nessa nova cidade mineira, há uma chance de recomeçar sendo obrigada a esconder seu maior segredo, a transexualidade. Mas o segredo dura pouco. Após ficar um pouco embriagada, durante uma festinha com amigos, Valentina dorme e é molestada durante o sono. Ao sentir ser tocada sem seu consentimento, tenta revidar, mas já é tarde. O jovem abusador descobre seu segredo e espalha pelas redes sociais a história.

É incrível como a temática desse filme também mostra uma realidade da qual o Brasil acabou de presenciar, como o estupro de vulnerável, caso da catarinense que perdeu processo e o réu saiu ileso sob a sentença de “estupro culposo”. [Pelo menos até a data de hoje, 09/11/2020].

Valentina é um filme tão importante ao nosso cenário atual, que a 44º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo concedeu menções honrosas para a interpretação da atriz e influncer Thiessa, que também é transgênero. O filme também foi vencedor do prêmio do púbico na categoria de “Melhor Filme de Ficção Brasileiro”. Essa foi a primeira vez que o roteirista Cássio dirigiu um filme.

Sem dúvida, ter uma protagonista transgênero e na história esse fato não ser um tabu dentro da família, já mostra a tendência em explorar essa temática nas produções audiovisuais brasileiras sem enfatizar o dilema da aceitação dentro de casa.

Ficha técnica:

Valentina (2020); Direção: Cássio Pereira dos Santos; Roteiro: Cássio Pereira dos Santos; Elenco: Thiessa Woinbackk, Guta Stresser, Rômulo Braga, Letícia Franco, Ronaldo Bonafro; Duração: 95 minutos; Gênero: Drama; Produção: Erika Pereira dos Santos; País: Brasil; Distribuição: Anagrama Filmes; Estreia no Brasil: -.

 

■ Por Richard Günter

Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e Diretor Executivo do Portal do Roteiro Audiovisual


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